dimanche 23 mai 2010

Bem escrito e emocionante

Uma amiga, Ana Lagoa, após haver jogado fora papeis acumulados antes de mudar de casa, escreveu-me:


Para mudar no sábado para Teresópolis, estou há 4 dias rasgando agendas antigas desde 1996.
Fui das mais recentes para trás. Achei as primeiras pautas da Futura, as reuniões na Teleducação, o JB (99, uma agenda cheia). Agorinha terminei. Na de 1996.
Lá estão todas as sementes do que me tornei e o que fiz.
Estão as fontes de educação que reuni para a assessoria da TV. E no telejornal de educação que fazia naquele ano.
Tem listas e listas de providencias estratégicas e operacionais, e eu nem chamava disso.
Estava tudo ali já delineado, o perfil de coordenação, de gestão. O fazer do jornalismo educativo na TV, as deficiências encontradas; as sugestões, os conflitos de vaidades. Tudo está ali e vai num crescendo ano após ano e depois vai num decrescendo.
As agendas vão ficando vazias, esmorecendo, perdendo o elã pelos temas, pelos encontros, pelas fontes.
Nomes se repetem, temas retornam como num ciclo sem viço.
Os cenários, pessoas e pautas seguem as mesmas, mas eu ia mudando nesses 14 anos e me tornando o que sou hoje.
Há poemas também, e um deles fala sobre pessoas que limpam palavras.

Há pobres que limpam chão.
Eu limpo palavras.
Gastei nisso a vida:
Limpando palavras dos outros.
Durmo com meus sonhos
Meus pensamentos
Minhas próprias palavras
Pois elas não têm preço no mercado"
(25 de julho de 1996)

Pouco antes de completar 14 anos, encerrei a carreira de limpar palavras. Talvez agora possa acordar e escrever as minhas, mesmo que não tenham preço. Já não importa ter ou não preço.

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