lundi 21 avril 2008

Que falta ele faz !

Elizabeth Lorenzotti acaba de publicar Suplemento Literário – Que falta ele faz (Imprensa Oficial, São Paulo, 2008) magnífica obra sob vários pontos de vista; seu formato, o papel utilizado e a qualidade de impressão a classificam na categoria dos belos livros, daqueles que temos prazer em presentear. Mas além desses aspectos, é o conteúdo que merece os maiores elogios. Não apenas pelo estilo da autora, mas também – e sobretudo – por contar às gerações atuais a história de um caderno literário brasileiro que aparecia aos sábados com o jornal “O Estado de S. Paulo”, entre 1956 e 1974. É ele que provoca a exclamação: “Que falta ele faz”.
Criado por Antonio Candido e editado por Décio de Almeida Prado, dois eminentes intelectuais brasileiros, este semanário passava em revista as informações culturais sem se preocupar com o imediatismo. Como afirmava Décio de Almeida Prado na apresentação do primeiro número: “(O Suplemento) pode se dar ao luxo de considerar uma crônica dos amores de um rapaz de 18 anos e de uma moça de 15, na Verona pré-renascentista, do que qualquer fato de última hora, pelo motivo de que as crises, as guerras, até os impérios, passam com bem maior rapidez do que os mitos literários, muitos dos quais vêm acompanhando e nutrindo a civilização ocidental há pelo menos trinta séculos”.
Exceção de seus oito primeiros anos, este caderno surgiu durante um período negro da história brasileira. A meia-noite do século em matéria de democracia. Ora, em 1961, mais precisamente a partir da renúncia de Jânio Quadros, o Estadão, também “começou a conspirar com os militares e a manipular informações”, segundo Cláudio Abramo, um de seus jornalistas. Entretanto, o Suplemento Literário gozava de uma surpreendente liberdade de ação, mesmo durante as lutas estudantis contra o regime militar. Em 1968, Leyla Perrone-Moisés, por exemplo, escreveu um artigo entusiasmado com a Revolução Cultural chinesa. Tendo pedido como ilustração da matéria uma foto de Mao Tsé Tung, viu recusada unicamente esta parte: “Era evidente que as idéias de maio de 1968 não eram do gosto de um jornal conservador, embora democrático, como o Estadão. Mas que jamais fui censurada, isso jamais.”
Eis porque nós, que combatíamos a ditadura na clandestinidade, éramos tão ligados ao Suplemento Literário. É verdade que ele nos faz falta.
Arkan Simaan







Traduction du texte ci-dessus.
Elizabeth Lorenzotti vient de publier Suplemento Literário – Que falta ele faz (Imprensa oficial, São Paulo, 2008), ouvrage magnifique à plusieurs égards : son format, le papier utilisé et la qualité de l’impression le classent dans la catégorie des beaux livres, de ceux qu’on a plaisir à offrir. Mais au-delà de l’aspect, c’est le contenu qui mérite le plus d’éloges. Pas seulement pour le style de l’auteur mais aussi – et surtout – par le rappel aux générations actuelles d’un cahier littéraire qui apparaissait les samedis avec le quotidien O Estado de São Paulo de 1956 à 1974. C’est lui qui mérite l’exclamation : « Qu’est-ce qu’il nous manque » (« Que falta ele faz »).
Crée par Antonio Candido et édité par Decio de Almeida Prado, deux éminents intellectuels brésiliens, cet hebdomadaire passait en revue les informations culturelles sans se soucier de l’immédiat. Comme l’affirmait Décio de Almeida Prado dans la présentation du premier numéro : « (Le Suplemento) peut se donner le luxe de considérer la chronique des amours d’un garçon de dix-huit ans et d’une fillette de quinze, à Vérone juste avant la Renaissance, plus vitale que toute autre brève de dernière minute car les crises, les guerres et même les empires s’en vont plus vite que les mythes littéraires, dont plusieurs accompagnent et nourrissent notre civilisation occidentale depuis au moins trente siècles. »
Exception faite de ses huit premières années, ce cahier parut durant la période noire de l’histoire brésilienne, le minuit du siècle en matière de démocratie. Or, en 1961, plus précisément à compter de la démission de Janio Quadros, O Estadão a, lui-aussi, « commencé à conspirer avec les militaires et à manipuler les informations », d’après Claudio Abramo, l’un de ses journalistes. Cependant, le Suplemento Literário jouissait toujours d’une étonnante liberté de ton y compris lors des troubles étudiants contre le régime militaire. En 1968, Leyla Perrone-Moisés, par exemple, y écrivit un article enthousiaste pour la Révolution culturelle chinoise. Ayant demandé son illustration par une photo de Mao Tsé-Tung, elle s’est vu refuser uniquement le portrait : « C’était évident que les idées de mai 1968 n’étaient pas du goût d’un journal conservateur, bien que démocratique, comme O Estadão. Mais je n’ai jamais été censurée… jamais. »
Voici pourquoi, nous qui combattions la dictature dans la clandestinité, étions si attachés au Suplemento Literário. Il est vrai qu’il nous manque.
Arkan Simaan
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Amazônia Brasileira – agrava-se o desmatamento

Tradução do artigo "Amazonie Brésilienne – La déforestation s’aggrave"
de Annie Gasnier, Le Monde, 1 de março de 2008. (Para as imagens, ver abaixo)

Oficialmente, a meta do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é chegar ao “desmatamento zero” da Amazônia. Mas o Brasil ainda está longe deste objetivo. As destruições recomeçaram fortemente por voltas de agosto ou setembro de 2007.
A floresta foi aniquilada em mais ou menos 7 000 km2 para abrir campo para a soja, o gado e a cana de açúcar, constatou, em janeiro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), baseado em fotos de satélites.
Assim, entre agosto de 2007 e julho de 2008, a desflorestação talvez aumente 34%, sendo que as autoridades brasileiras se gabavam na conferencia sobre o clima em Bali, em dezembro de 2007, de a terem parado, visto que elas tinham cifras indicando um recuo das destruições nos últimos três anos.
O presidente Lula da Silva pediu medidas urgentes para inverter a tendência. Em 26 de fevereiro, a polícia federal lançou uma vasta operação apoiada por 300 homens (que serão mil no começo de abril), para combater o desmatamento ilegal nos estados mais atingidos: Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Não menos do que treze ministros estão encarregados de lutar contra o desmatamento da Amazônia, mas eles não adotam a mesma atitude. O governo está esquartejado entre dois desafios: preservar a floresta tropical e favorecer o crescimento econômico.
Duas mulheres simbolizam este dilema na cúpula. Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente, nascida na Amazônia e aureolada com um passado ao lado do militante assassinado, Chico Mendes. Mas, frequentemente, ela cedeu diante de pressões. Assim, ela autorizou a construção de duas centrais elétricas no Madeira, um afluente do Amazonas. A outra, Dilma Roussef, Chefe da Casa Civil, responsável do Plano de Aceleração do Crescimento, criado com o intuito de multiplicar as infra-estruturas no país, particularmente na Amazônia, onde encontram-se muitos projetos de estradas, de portos, e de usinas hidroelétricas.
Após o sombrio recorde ocorrido entre agosto de 2003 e julho de 2004, onde 27 429 km2 de madeira viraram fumaça, Marina Silva reorganizou a observação por satélite, mas sem dispor de meios ou de funcionários. “As multas do Estado são ridiculamente baixas e o desmatamento vai continuar”, prevê um dos diretores da Greenpeace Brasil, Sergio Leitão. De acordo com ele, somente dois por cento dos destruidores pagam as multas.

100 000 quilômetros de pistas clandestinas

“As autoridades imaginam o desenvolvimento da Amazônia com base no modelo dos anos 1950”, critica Sergio Abranches, sociólogo especializado em ecologia política. Ele dá o exemplo das estradas destinadas ao transporte de produtos agrícolas, a BR 163 entre Cuiabá e Santarém, cuja metade já é asfaltada, e a outra, que está em estudos, entre Porto Velho e Manaus.
Os dados cartográficos provam que o asfalto transforma-se em avenida de desmatamento por onde se embrenham os traficantes de madeira, os garimpeiros, os aventureiros e os agricultores. Mais ou menos 100 000 quilômetros de pistas clandestinas já foram abertas.
Marina Silva incentiva as atividades de “exploração durável” nas zonas batizadas “unidades de conservação”, e a administração vigiada das matas públicas que cobrem 40% da área florestal. Assim, 2 200 km2 de floresta em Jamari (Rondônia) serão brevemente concedidos para empresários particulares a fins de “exploração limpa”. Um começo.
Nove organizações não governamentais (ONGs), brasileiras e internacionais, elaboraram um ambicioso Pacto para a Valorização da Amazônia cujo objetivo é o de acabar com o desmatamento daqui até 2015.
“É preciso valorizar o zelo pela floresta existente e pagar os que a protegem”, reclama Adriana Ramos de uma das ONGs signatária do pacto, o Instituto Sócio-Ambiental.
O Brasil deseja mostrar que ele se preocupa com a Amazônia porque teme a internacionalização da gestão da maior floresta tropical do planeta, cujo desmatamento, por queimadas, contribui para a emissão de gás responsável pelo efeito estufa.
O autor do livro “Brasil: O Capital Natural” (não traduzido em francês), Mauro Victor, diz-se convencido que “se o Brasil não parar a destruição da Amazônia por convicção, será obrigado a fazê-lo por pressões exteriores, primeiro, econômicas e comercias e, em seguida, políticas, senão militares.”
As eleições municipais estão previstas em outubro. A Ministra do Meio Ambiente teme que os prefeitos da Amazônia fechem os olhos, este ano, sobre as destruições ilegais realizadas pelos seus eleitores.

Amazonie Brésilienne – La déforestation s’aggrave






Annie Gasnier, Le Monde, 1 mars 2008


Officiellement, l'objectif du président brésilien, Luiz Inacio Lula da Silva, est de parvenir à une "déforestation zéro" en Amazonie. Mais le Brésil en est très loin. Les destructions ont repris de plus belle entre août et décembre 2007.

Quelque 7 000 km2 de forêts ont alors été rasés, a constaté en janvier l'Institut national de recherches spatiales (INPE) sur ses relevés satellites, pour faire place au soja, au bétail et à la canne à sucre.

Au total, le déboisement entre août 2007 et juillet 2008 pourrait augmenter de 34 %, alors que les autorités brésiliennes se vantaient à la conférence sur le climat à Bali, en décembre 2007, d'avoir jugulé le phénomène, les chiffres montrant depuis trois ans un recul des destructions.

Le président Lula da Silva a réclamé des mesures urgentes pour inverser la tendance. Aussi la police fédérale a-t-elle lancé, le 26 février, une vaste opération avec 300 hommes, qui seront un millier début avril, pour combattre le déboisement illégal dans les Etats du Para, du Mato Grosso et du Rondonia, les plus concernés.

Pas moins de treize ministres sont responsables de la lutte contre la déforestation en Amazonie, mais ils ne parlent pas tous le même langage. Le gouvernement est écartelé entre deux défis : préserver la forêt tropicale et favoriser la croissance économique.

Deux femmes incarnent ce dilemme au sommet. Marina Silva, ministre de l'environnement, enfant de l'Amazonie, est auréolée de son passé aux côtés du militant assassiné Chico Mendes. Mais elle a souvent cédé aux pressions. Elle a ainsi autorisé la construction de deux centrales électriques sur le Madeira, un affluent de l'Amazone. L'autre est Dilma Rousseff, chef de cabinet du président Lula, responsable du Plan d'accélération de la croissance, élaboré pour multiplier les infrastructures à travers le pays, notamment en Amazonie, où fourmillent des projets de routes, ports et usines hydroélectriques.

Après le sombre record entre août 2003 et juillet 2004, où 27 429 km2 de bois étaient partis en fumée, Marina Silva a réorganisé la surveillance par satellite, mais sans moyens ni personnel. "Les amendes infligées par l'Etat sont ridiculement basses et le déboisement se poursuivra", prédit l'un des directeurs de Greenpeace-Brésil, Sergio Leitao. Selon lui, seulement 2 % des contraventions sont payées par les destructeurs.

100 000 KM DE VOIES CLANDESTINES

"Les autorités conçoivent le développement de l'Amazonie sur un modèle des années 1950", critique Sergio Abranches, sociologue spécialiste en écologie politique. Il cite en exemple les routes conçues pour évacuer les denrées agricoles, la BR 163 Cuiaba-Santarem, à moitié asphaltée, et celle à l'étude entre Porto Velho et Manaus.

Les relevés cartographiques prouvent que le goudron se transforme en boulevard de déboisement pour les trafiquants de bois, orpailleurs, aventuriers et agriculteurs. Quelque 100 000 km de chemins clandestins existeraient déjà.

Marina Silva encourage des activités d'"exploitation durable" dans des zones baptisées "unités de conservation", et une gestion surveillée des forêts publiques, qui couvrent 40 % de la surface forestière. Ainsi les 2 200 km2 de forêt à Jamari (Rondonia) seront bientôt cédés à des concessionnaires privés pour une "exploitation propre". Un début.

Neuf organisations non gouvernementales (ONG) brésiliennes et internationales ont élaboré un ambitieux Pacte pour la valorisation de l'Amazonie, afin d'éradiquer la déforestation d'ici à 2015. "Il faut valoriser l'entretien de la forêt sur pied et rémunérer ceux qui la protègent", plaide Adriana Ramos, de l'ONG Instituto Socioambiental, signataire du pacte.

Le Brésil veut démontrer qu'il se préoccupe de l'Amazonie de crainte d'une internationalisation de la gestion de la plus grande forêt tropicale de la planète, dont la déforestation, par brûlis, contribue à l'émission de gaz à effet de serre. Dans son ouvrage Brésil, le capital naturel (non traduit en français), l'agronome brésilien Mauro Victor se dit convaincu que "si le Brésil ne freine pas la destruction de l'Amazonie par conviction, il y sera contraint par des pressions extérieures, d'abord économiques et commerciales, puis politiques, voire militaires".

Les élections municipales sont prévues en octobre. La ministre de l'environnement craint que des maires d'Amazonie ferment les yeux, cette année, sur les destructions illégales perpétrées par leurs électeurs.