lundi 21 avril 2008

Amazônia Brasileira – agrava-se o desmatamento

Tradução do artigo "Amazonie Brésilienne – La déforestation s’aggrave"
de Annie Gasnier, Le Monde, 1 de março de 2008. (Para as imagens, ver abaixo)

Oficialmente, a meta do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, é chegar ao “desmatamento zero” da Amazônia. Mas o Brasil ainda está longe deste objetivo. As destruições recomeçaram fortemente por voltas de agosto ou setembro de 2007.
A floresta foi aniquilada em mais ou menos 7 000 km2 para abrir campo para a soja, o gado e a cana de açúcar, constatou, em janeiro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), baseado em fotos de satélites.
Assim, entre agosto de 2007 e julho de 2008, a desflorestação talvez aumente 34%, sendo que as autoridades brasileiras se gabavam na conferencia sobre o clima em Bali, em dezembro de 2007, de a terem parado, visto que elas tinham cifras indicando um recuo das destruições nos últimos três anos.
O presidente Lula da Silva pediu medidas urgentes para inverter a tendência. Em 26 de fevereiro, a polícia federal lançou uma vasta operação apoiada por 300 homens (que serão mil no começo de abril), para combater o desmatamento ilegal nos estados mais atingidos: Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Não menos do que treze ministros estão encarregados de lutar contra o desmatamento da Amazônia, mas eles não adotam a mesma atitude. O governo está esquartejado entre dois desafios: preservar a floresta tropical e favorecer o crescimento econômico.
Duas mulheres simbolizam este dilema na cúpula. Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente, nascida na Amazônia e aureolada com um passado ao lado do militante assassinado, Chico Mendes. Mas, frequentemente, ela cedeu diante de pressões. Assim, ela autorizou a construção de duas centrais elétricas no Madeira, um afluente do Amazonas. A outra, Dilma Roussef, Chefe da Casa Civil, responsável do Plano de Aceleração do Crescimento, criado com o intuito de multiplicar as infra-estruturas no país, particularmente na Amazônia, onde encontram-se muitos projetos de estradas, de portos, e de usinas hidroelétricas.
Após o sombrio recorde ocorrido entre agosto de 2003 e julho de 2004, onde 27 429 km2 de madeira viraram fumaça, Marina Silva reorganizou a observação por satélite, mas sem dispor de meios ou de funcionários. “As multas do Estado são ridiculamente baixas e o desmatamento vai continuar”, prevê um dos diretores da Greenpeace Brasil, Sergio Leitão. De acordo com ele, somente dois por cento dos destruidores pagam as multas.

100 000 quilômetros de pistas clandestinas

“As autoridades imaginam o desenvolvimento da Amazônia com base no modelo dos anos 1950”, critica Sergio Abranches, sociólogo especializado em ecologia política. Ele dá o exemplo das estradas destinadas ao transporte de produtos agrícolas, a BR 163 entre Cuiabá e Santarém, cuja metade já é asfaltada, e a outra, que está em estudos, entre Porto Velho e Manaus.
Os dados cartográficos provam que o asfalto transforma-se em avenida de desmatamento por onde se embrenham os traficantes de madeira, os garimpeiros, os aventureiros e os agricultores. Mais ou menos 100 000 quilômetros de pistas clandestinas já foram abertas.
Marina Silva incentiva as atividades de “exploração durável” nas zonas batizadas “unidades de conservação”, e a administração vigiada das matas públicas que cobrem 40% da área florestal. Assim, 2 200 km2 de floresta em Jamari (Rondônia) serão brevemente concedidos para empresários particulares a fins de “exploração limpa”. Um começo.
Nove organizações não governamentais (ONGs), brasileiras e internacionais, elaboraram um ambicioso Pacto para a Valorização da Amazônia cujo objetivo é o de acabar com o desmatamento daqui até 2015.
“É preciso valorizar o zelo pela floresta existente e pagar os que a protegem”, reclama Adriana Ramos de uma das ONGs signatária do pacto, o Instituto Sócio-Ambiental.
O Brasil deseja mostrar que ele se preocupa com a Amazônia porque teme a internacionalização da gestão da maior floresta tropical do planeta, cujo desmatamento, por queimadas, contribui para a emissão de gás responsável pelo efeito estufa.
O autor do livro “Brasil: O Capital Natural” (não traduzido em francês), Mauro Victor, diz-se convencido que “se o Brasil não parar a destruição da Amazônia por convicção, será obrigado a fazê-lo por pressões exteriores, primeiro, econômicas e comercias e, em seguida, políticas, senão militares.”
As eleições municipais estão previstas em outubro. A Ministra do Meio Ambiente teme que os prefeitos da Amazônia fechem os olhos, este ano, sobre as destruições ilegais realizadas pelos seus eleitores.

Aucun commentaire: